Você também já deve ter imaginado como seria viver em outros tempos; em um período especial.
Quem sabe no Rio de Janeiro do final dos anos 50; no gramado mágico e enlameado da fazenda mais famosa de Bethel, entre 15 e 18 de agosto de 1969; na Seattle dos anos 80, e por aí vai.
Woody Allen, em seu último filme, escolheu a Paris dos anos 20. Não sei o que teria escolhido Ernest Hemingway, mas era justamente ali que estava; naquela hora, naquele lugar.
Parece ter sido esta também a escolha de Paula McLain, autora do belíssimo livro The Paris Wife: a Novel, que, misturando ficção e realidade, decidiu encarnar Hadley Richardson (a narrativa é em primeira pessoa), a primeira esposa de Hemingway, e contar uma das mais belas histórias deste (e de qualquer um): o primeiro amor.
A idéia de conceber a obra veio da leitura da excelente e emocionante “autobiografia” que aquele fez de seus tempos em Paris: A Moveable Feast. Nesta, a perspectiva daqueles dias é de Hemingway, quem, mesmo ao lado de Gertrud Stein, Scott Fitzgerald, Ezra Pound e tantos outros, tem em Hadley seu porto seguro.
Ali também, Ernest – ou Tatie, para Hadley – quando se vê prestes a deixar Hadley – que também é Tatie, para Ernest – diz: “I wished I had died before I ever loved anyone but her”.
É justamente um amor carregado de tamanha intensidade, que tendo crescido e sofrido junto com seus protagonistas, cai no mundo e perde sua inocência, o que retrata Paula McLain neste livro.
Hadley estava passando férias quando o conheceu – a amiga Kate, que, por suas razões, desaprovava o romance, alertou desde o princípio: “He likes women. All women”. Sem conseguir conter o que sentia, contudo, com ele se casou – em setembro de 1921. Mudaram-se para Paris pouco depois.
Na nova cidade, desfrutaram, juntos, das dores e delícias que tamanha efervescência criativa e social oferecia – em dado momento, quando as coisas já parecem desandar, Hadley pergunta a um amigo: “‘What’s wrong with all of us, Bill? Can you tell me that?’ (…) ‘We drink too much for starters. And we want to much, don’t we?”.
Por essas razões, como a protagonista diz, tudo estava bem, até que não estava mais. O casal parecia indestrutível, até que se desfaz. Simples assim; complicado assim – como em “Blue Valentine”, de que já falamos aqui.
A narrativa criada pela autora nos faz sentir junto com Hadley; nos faz amar Hemingway – a despeito da personagem machona e destemperada que conhecemos – e temer o fim que se sabe próximo – do romance e do livro. (Confesso que, diferentemente da maioria das outras obras, nesta, não queria chegar ao final; mesmo sabendo qual seria, me vi achando milhões de desculpas para largar o livro e postergar a virada da última página.)
É, enfim, uma lindíssima perspectiva de uma das épocas mais comentadas do século XX – e de um dos maiores autores desse período – na qual a ficção nos incentiva a conhecer ainda mais o que realmente se passou.
Vale muitíssimo. Pena que acabou – aquele período e este livro.
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