Suponha que você tenha se desligado do mundo nos últimos vinte anos. Para você, camisa de flanela não é grunge, nem hipster, é roupa de lenhador. Você nunca ouviu falar em Kurt Cobain, ou em sua melancolia que, transformada em rock, se tornou hino de uma geração. Ao ver a imagem de um bebezinho gorducho, nadando numa piscina em direção a uma nota de dinheiro, nenhum disco vem à mente.
Você, portanto, não conhece David Grohl.
Eis que, em 2011, você volta e fica sabendo que uma tal Foo Fighters é uma das maiores bandas de rock da atualidade e que seu vocalista e guitarrista, David Grohl, há vinte anos participava (como baterista do Nirvana) daquela que possivelmente foi a mais significativa (r)evolução do rock alternativo de todos os tempos.
Você, então, se depara com o seguinte álbum:
A primeira faixa, “Bridge Burning”, começa com um riff seco, metálico, que se multiplica em uma sucessão de ataques à guitarra e um grito: “these are my famous last words”. A batida continua pesada e, na letra, a pergunta: “Tell me now, what’s in it for me? No one’s getting this for free/So tell me now what’s in it for me”.
A resposta é: para Grohl, que, aos trancos e barrancos foi consolidando sua posição como lead man de uma grande banda, há, hoje, um séquito de fãs; alguns que o acompanham desde os meados de 1991, e outros, como você, que o conhecem agora – e rapidamente gostam daquilo que ouvem.
E você gosta porque você escuta a ótima “Matter of Time” (“my past is getting us nowhere fast/I was never one for taking things slow/Nowhere seems like somewhere to go/Come over and over”) e entende que esse tal David Grohl é um cara bacana (como bem disse Lucio Ribeiro), que tomou algumas porradas da vida, mas que, neste momento, está em sua melhor forma.
Percebe também que essa banda tem, como poucas, a habilidade de modular a intensidade das batidas e vocais ao longo das faixas; em outras palavras, intercala melodias simples – harmônicas e que funcionam – a estrofes e refrões gritados com intensidade impressionante (como em “Arlandria”: em meio a uma quase balada, de repente surge o berro que implora “Oh God, you gotta make it stop!”; ou na excelente “Walk”, em que praticamente arrebenta suas cordas vocais ao cantar “I never wanna die, I never wanna die” ).
Gosta também porque o som é rock’n’roll de verdade, mas as letras falam sem pudores de amores e suas desventuras. Aliás, a raiva típica do rock pode ser a melhor forma de se expiar a dor causada por alguém: “one of these days, I bet your heart will be broken/ I bet your pride will be stollen” (“These Days”).
Assumindo o risco de levar uma sapatada na cabeça, você ousa a pensar que algumas faixas, como “I Should have Known” quase cruzam a fronteira em direção ao emo: “I shoulda known, that it would end this way/I shoulda known, there was no other way/Didn’t hear your warning/Damn, my heart gone there”. Mas, antes mesmo de você dizer o que pensou, vêm novamente os vocais gritados – e inequivocamente viris – de Grohl (como na pedrada “White Lime”) e tudo volta ao normal. (Vale dizer, contudo, que você, como eu, acredita piamente na máxima de que de emo e louco todo mundo tem um pouco – não havendo mal algum nisso.)
O disco, enfim, acaba e você, satisfeito, decide que, mesmo tendo conhecido esse cara só agora, ouvirá muito David Grohl pela frente.
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