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De mentirinha

Mamãe já disse que mentira tem perna curta. Mentira contada por filho, então, não tem jeito: é só uma questão de tempo até que ela descubra.

Mas e se a mentira for só “uma mentirinha”, daquelas bem intencionadas? Por exemplo: se você visse sua mãe triste, acabada, em frangalhos por conta do fim do casamento com seu pai e resolvesse lançar mão de algo “de veracidade duvidosa” para deixá-la mais feliz?

Este é justamente o enredo de “Uma Doce Mentira” (“De vrais mensonges”, de Pierre Salvadori), comédia romântica (mais comédia do que romântica) em que Audrey Tautou (a.k.a Amelie Poulin) é Emilie, uma filha pragmática e um tanto insensível que, ao não se sentir nem um pouco tocada por uma linda carta de amor anônima que recebe, resolve endereçá-la a sua mãe, Maddi (a ótima Nathalie Baye), a fim de tentar fazer esta sorrir novamente.

O espectador, no entanto, sabe desde o início que o admirador secreto é Jean (Sami Bouajila), quem, apesar de ultraqualificado para o emprego (é poliglota, cultíssimo, etc.), trabalha no salão de cabeleireiro de Emilie como responsável pela manutenção e eletricidade do local.

Tamanho é o efeito da carta sobre Maddi, que a filha não se vê capaz de fazer outra coisa a não ser perpetuar a mentira – e, assim, vai se enrolando cada vez mais em uma teia de mal entendidos e confusões.

Com o estopim para um incontrolável encadeamento de eventos aceso do início ao final do filme, nós, espectadores, nos vemos diante de uma bola de neve composta por situações as mais cômicas – que, não raras vezes, nos deixam ruborizados e com vergonha alheia. Ficamos também aflitos, tensos com a próxima trapalhada por vir.

Trata-se assim, de um filme que entretém, leve e divertido, sem deixar de ser esperto e incomum. Apesar do imbróglio todo – ou justamente por conta dele – é interessante ver a evolução de Emilie, que quanto mais se enrola, mais vê seu coração amolecer; o coração que, outrora, parecia tocado apenas pela dor da mãe – ainda que se possa questionar se ela estava efetivamente compadecida, ou simplesmente envergonhada das atitudes malucas daquela – passa a também sentir por conta própria. A partir de então, sente dor e prazer de verdade.

(“Uma Doce Mentira”, “De vrais mensonges”, de Pierre Salvadori)

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